Às vezes o silêncio basta




      “Eu sempre volto ao mesmo ponto de partida, ao ponto em que esqueço de mim e me volto a você. Se a cada passo que dou em direção a tudo que acredito, me afasto mais de você, eu volto. E sofro.”

     Ele continuava a olhá-la, e apesar de seus olhos encharcados, pareciam não demonstrar nenhuma emoção, e permanecia em silêncio, corria uma mão na outra à procura de palavras, mas nada saia. Só o silêncio.
       Ela tentou pela última vez, uma resposta, alguma explicação para tudo o que acontecia. Só queria saber o que ele sentia. Ele nunca disse, suas palavras eram vagas e suas brincadeiras fora de hora, cortantes! Mas ela se encantou, sem saber ao menos a razão e o porquê, tudo o que viveu ao lado dele tinha sido especial demais para ser entregue de bandeja assim.

Ele não respondia à altura, e sempre seria assim.
Ela levantou e o olhou pela última vez.
“Isso é tudo o que deixo aqui..”
(...)

      O silêncio se fez, ela abriu a porta e saiu, o deixou com tudo aquilo que ele havia lhe dado, não olhou para trás como das outras vezes.
Naquele dia ele havia lhe dado a resposta que ela precisava, que só o tempo se encarregaria de explicar cada detalhe. Afinal, seu lugar não era ali. Não naquele bar. Não com ele. O que sustentava tudo era a fina linha de sua esperança, e ela estava sendo cortada. O silêncio se tornou seu amigo, ele lhe mostrou a direção, que expectativas altas demais nos levam ao chão e ela não precisou das palavras que tanto esperava para descobrir.

       O ponto de partida agora seria ela, mas de um jeito diferente, o que antes era bom hoje não serve mais, e agora seriam seus sonhos e objetivos. E com o coração na mão, pela primeira vez, ela finalmente se lembrou. Dela.

Apenas memórias


Sempre tem algo que você esquece, que por mais que tente, nunca lembrará..

Talvez essas memórias nunca saiam de onde estão. Ou quem sabe às 3h da manhã elas retornem? Só dependerá de apenas alguns segundos para que voltem à tona, com toda a intensidade que um dia existiu.

Você nunca saberá o quanto deseja algo, até sonhar com aquilo, cada sonho tem uma parte de seus desejos, pode ser que leve um tempo até a plena percepção. E quem sabe o que será revelado em um sonho? Em um flash quase imperceptível, uma pequena batida, o fôlego se vai. E elas retornam, mas não são as mesmas.

Lembranças de uma época ingênua, sem medos, de algo que mudou sua forma de enxergar o mundo, e por consequência, essas mesmas memórias foram trancadas. Talvez isso nos torne maleáveis, a possibilidade de uma memória reprimida assusta, instiga...

Você quer lembrar?

Essas memórias, assim como o tempo, mudaram algo, deixando o passado onde tem que ficar e mostrando que é pra frente que se deve andar...

Elas voltaram para provar que o tempo delas é outro e que, talvez, no inconsciente elas devam ficar.


À deriva


Mostre-me sua habilidade. Conte-me meias verdades. Segure-me até cansar. Olhe-me como se pudesse me sentir às cegas. Decifre-me a cada toque. Arranque-me o riso mais doce. E o suspiro mais lento. Beije-me como se fosse a última vez. Sim, a última vez. Deixe-me à deriva. Mostre-me o seu sentido. Faça-me voltar atrás. Leia-me uma vez mais. E reflita. Agora sente. Olhe em volta. Não estou perto. Talvez um pouco longe demais. Eu era a paz. Agora, não mais. Eu sei manter pessoas. Você, infelizmente, sabe perdê-las. Parabéns, rapaz.

Para quando o outono acabar

Engoli o orgulho e segui, sabendo que nada de errado fiz. Dei a mão ao vento, deixando ele me levar, e sem querer, levei todas as lembranças comigo.


Cansei, nunca fui sequer o que imaginei pra você, nunca soube lidar com o que tinha à sua frente. As palavras se tornaram muito maiores perto das atitudes, as quais sempre nos deixaram na mão.

Um dia desses me peguei pensando em como o que sentimos pode nos fazer perder a cabeça, a respiração, o coração, toda a filosofia e um pouco da razão. Nos faz levar um tombo e ainda assim insistir, acreditando que nada mudou, apesar de tudo estar diferente, distante..

Bem distante do que um dia já foi, e que nunca voltará a ser...

O outono pode demorar, mas temos a vida inteira para seguir, errar, ter recaídas, desapegar e assim levantar, com um aprendizado em mente, um sorriso no rosto e sempre acreditando.

Porque quando as folhas deixarem de cair, essa sim, é a hora de recomeçar.
                  

Um lugar para você..

De castanho para castanho consigo ver o pouquinho que me mostra a cada momento, devagarinho..


Teu jeito emburrado ao me ver sorrir, não me deixa parar, se acostume, irei sorrir a cada levantar de sua sobrancelha, a cada tentativa de fazer seu cabelo parecer um pouco mais decente, e a cada toque em meu rosto, tenho o riso leve quando o coração bate forte. Te colocarei em um potinho, pra quando a saudade bater, você, todas suas manias e defeitos.

Se por acaso você se assustar, pode ir, irei aceitar se quiser assim, tenho o jeito meio intenso, caso não consiga se acostumar. Mas se quiser ficar, não vai ser um pouquinho, afinal você já está em meu potinho, vai me acompanhar!

Te digo todas as besteiras possíveis, esperando a leveza de nossos sorrisos, olhares demorados, nossas mãos suadas, dois sem jeito e ainda sem graça...                                                     

De castanho pra castanho eu vejo um pequeno caminho, um "boa noite" e um "vem cá", por que você já me tirou o sono e continua a tirar. E em nossa terceira dimensão eu vejo sua sobrancelha levantar, já falei dela? Sim, eu continuarei a sorrir e não vai me fazer parar, só com o meio sorriso depois de me beijar, só aí te deixarei falar.

Entenda, as 108 mensagens serão respondidas (sua vez de rir com minha mania de exagerar) assim que a aula acabar, não irei esquecer, mas te farei esperar.

Porque de castanho pra castanho nos enxergamos, com o passado de cada um, cada medo e cada desejo, voltamos a nos olhar, e assim eu prometo, do meu potinho não vou te tirar.

A linha tênue: entre pessoas e papéis

Abra aquela caixa...
Está vendo esses papéis sujos e borrados? Você consegue enxergar o valor deles?


Todos amassados e riscados, descartados pela imperfeição. Todas as idéias jogadas fora por um julgamento, por não seguirem um padrão, não se encaixarem na bendita perfeição.

A perfeição criada pela fantasia, do certo e errado. Do belo e do, infelizmente, desprezado. Você diz que não funciona, que existe um padrão, eu digo que não! Nos olhos dos outros temos outra visão, uma perspectiva diferente, é hora de esquecer um pouco da gente, abrir a mente, vá, tente!

Algumas delas poderiam até inspirar alguém, quem sabe ter um final digno com apenas alguns retoques ou simplesmente permanecer do jeito que são, porque não precisam mudar, sempre há beleza, basta saber apreciar. Mas estão todas lá, naquela caixa, esperando uma oportunidade.

Só uma, de sair do papel, quebrar paradigmas e virar algo grande. Que tal uma chance?

Dois perdidos



Dois perdidos, tentando encontrar o lado certo de vestir a coragem, de entrelaçar os desejos e entregar toda a vontade ao destino. Perdidos apenas até o pôr do sol, até o último raio levar toda a incerteza e mostrar que ainda há algo perdido, sempre haverá..

E quando não houver, nenhum sentido fará, o valor se perderá e toda a busca será em vão, por nada.
Pois na vida, estamos sempre à procura de algo, que supra as necessidades, que traga felicidade, e muitas vezes não sabemos nem ao menos o que estamos buscando, mas estamos lá, na busca incessante pelo que está perdido, ou que ainda não foi encontrado! E assim se inicia o ciclo.

A essência, um mero objeto, um ato ou palavra, uma chance, um sorriso, só serão valorizados quando perdidos, pois enquanto a segurança da permanência existir, o comodismo terá seu lugar.

E assim, continuam perdidos, os que se encontraram, e aprenderam a amar e ainda assim voltaram a se perder...

Em cada toque, cada beijo, cada falha. Dois perdidos, entre si.

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